Cuiabá registrou, nos primeiros meses do ano, quatro casos da doença fúngica esporotricose, que causa feridas e ínguas em pessoas e gatos. A Capital começou a registrar casos locais em 2024, por meio do Hospital Veterinário (Hovet) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Na nossa região aqui, essa doença não ocorria com frequência como ela passou a ocorrer agora
De acordo com a professora de Medicina Veterinária UFMT, Valéria Dutra, trata-se de uma zoonose, doença que pode ser transmitida a animais e humanos, o que causa preocupação. Ao atender os animais, profissionais do Hovet também perceberam lesões em alguns tutores.
“A esporotricose é uma infecção causada por um fungo chamado Sporothrix e que nos animais afeta mais os gatos. Na nossa região, essa doença não ocorria com frequência como ela passou a ocorrer agora”, afirmou a professora.
É preciso que a doença seja tratada logo que percebida para não evoluir para um quadro mais grave. Quando não tratada de forma correta, a doença pode se agravar e comprometer o sistema respiratório e até mesmo os órgãos internos, sendo fatal para animais.
Contaminação
Conforme a médica veterinária, a arranhadura é a maior fonte de contaminação em gatos, que ocorre muitas vezes em brigas com outros animais, mas pode ser decorrente também do contato com superfícies contaminadas. Neles começam a aparecer lesões no rosto, patas e caudas, com aspecto de feridas não cicatrizadas e ínguas.
Já em humanos, o contágio é mais comum com o próprio gato. “Às vezes o gato vem, arranha, ele tem o fungo na patinha e passa. Ou também há a possibilidade de plantas estarem contaminadas com fungo, o gato contaminado passou naquela planta e o humano vai lá e se arranha nela. Mas o maior risco é o contato do gato apresentando as lesões do fungo com o humano”, disse.
Casos
São nove casos confirmados pelo Hovet entre 2024 e 2025, mas os especialistas acreditam que muitos outros estão sendo tratados como micoses comuns ou outras doenças, o que colabora para a propagação da doença.
A esporotricose pode ser confundida com outras doenças comuns na região, como a leishmaniose e a criptococose. A confusão pode gerar tratamento equivocado e propagação da enfermidade. “Por não saberem, os tutores não coletam esse material desse animal e aí o diagnóstico não é feito”, afirmou a professora.
Tratamentos e precauções
O tratamento para a esporotricose é muito diferente do de doenças com aspectos similares. Por isso a médica destaca a necessidade do diagnóstico correto.
“Ela tem tratamento com antifúngico, tanto para os humanos quanto para os animais. É um tratamento relativamente longo, mas se ele for feito corretamente com antifúngico, há uma boa recuperação dos humanos e dos animais, principalmente se for no início da doença”, disse.
O tratamento precisa de alguns meses para se completar, dependendo da situação que o humano ou animal se encontrar.

Ela tem tratamento com antifúngico, tanto para os humanos quanto para os animais.
Ela reforçou que assim que o tutor notar uma ferida persistente no animal, que não cicatriza, deve procurar imediatamente um serviço veterinário. E se o humano manifestar, procurar um serviço de saúde também com urgência.
“O dono deve evitar contato com gatos doentes sem proteção, sem uma luva, e precisa higienizar bem as mãos depois de manipular esses animais. Além disso, é importante procurar manter esse gato castrado dentro de casa para reduzir os riscos”, afirmou.
Abandono
Valéria também salientou que o caminho para evitar a doença não é o abandono dos animais.
“A gente tem um histórico de abandono de animais bastante grande aqui na nossa região. Às vezes o tutor percebe que o animal tem alguma lesão, ele não quer tratar, ele já abandona o gato. Nós queremos fazer essa campanha justamente para as pessoas não abandonarem os animais. Evitar, obviamente, essa contaminação em humanos, mas existe tratamento tanto para humano quanto para animal”, afirmou.
Propagação da doença
A doença está espalhada em vários estados do país. “Começou quase como uma epidemia no Rio de Janeiro e depois ela foi se espalhando para o resto do Brasil”, disse.
“Em Mato Grosso do Sul, que é aqui do lado, a doença já está em um estado muito avançado, com muitos casos humanos. No Paraná, por exemplo, foram muitos casos humanos em 2024, explodiu, porque geralmente ela vem vindo, vem vindo, vai contaminando, contaminando e quando se percebe tem um aumento muito grande do número de casos”, completou.