A antecipação da corrida eleitoral do ano que vem, com ao menos três aliados de Tarcísio de Freitas (Republicanos) se articulando para a disputa por São Paulo, desagradou o governador, que decidiu enquadrar seu grupo e relembrar que o candidato ao governo é ele.
O reforço se deu em meio a movimentações do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), do secretário de Governo e presidente do PSD, Gilberto Kassab, e do presidente da Alesp (Assembleia Legislativa), André do Prado (PL), para se apresentarem como opções para suceder Tarcísio em 2026.
Entre aliados, há relatos de clima azedo entre o governador e esses nomes, com especulações sobre um distanciamento de Tarcísio em relação a eles –o Palácio dos Bandeirantes nega haver indisposição.
Especialmente no caso de Nunes, as especulações foram alimentadas pela ausência de Tarcísio em um evento da prefeitura ocorrido na última quinta-feira (10). A cerimônia teve a apresentação de um pacote de obras que deve dar a tônica do segundo mandato de Nunes, incluindo corredores de ônibus, construção de novas vias e um bonde no centro histórico.
Para dar peso ao evento, a equipe do prefeito escolheu o Theatro Municipal como local do anúncio. O entorno do governador alegou questões de agenda, e Tarcísio optou por participar da entrega de leitos na Santa Casa de Misericórdia, a 1,6 km de distância, no mesmo horário. O Palácio dos Bandeirantes informa que Nunes foi convidado para comparecer ao evento.
Antes disso, segundo aliados, Tarcísio e Nunes já haviam conversado sobre sucessão. No último dia 1º, o governador convocou seu secretariado para uma reunião de alinhamento, na qual reforçou que sairá candidato à reeleição –e não à Presidência, como especulado diante da inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu padrinho político.
No encontro, Tarcísio foi enfático ao dizer que trabalha pela sua reeleição e pediu que a mensagem fosse repassada pelo grupo a terceiros. A conversa individual com o prefeito ocorreu por telefone após esse recado coletivo. Kassab também ouviu o aviso. A relação dele com o governador já vinha desgastada desde fevereiro, quando o secretário começou a se movimentar. Em um encontro com prefeitos, por exemplo, Tarcísio não o apresentou como interlocutor para firmar parcerias com o estado, função atribuída à pasta.
Nos bastidores, o governador passou a dizer que Kassab inflou o PSD ao prometer controle da máquina pública a prefeitos que se filiassem ao partido –promessa que, na avaliação dele, o secretário não poderia cumprir.
O governador também teve a mesma conversa com André do Prado, cujo trabalho em busca da candidatura é o mais distante do público. O presidente da Alesp fala sobre seus planos de tentar o governo para outros deputados estaduais desde o ano passado. Contudo, diante das reações de Tarcísio ao assunto, vem mantendo o tema fora de seus discursos e o reserva apenas às conversas de bastidores.
Um assessor disse à Folha, sob reserva, que o governador teme que sua aparição ao lado dos interessados no governo paulista em 2026 seja vista como um endosso às candidaturas.
Segundo esse aliado, Tarcísio não quer passar a Bolsonaro a imagem de alguém que faz jogo duplo, já que tem declarado apoio à candidatura do ex-presidente em 2026 e reforçado que, caso ele não saia candidato, acatará qualquer indicado por seu padrinho político. Como mostrou a Folha, o governador prefere a reeleição, mas já disse a aliados que aceitaria uma candidatura ao Planalto se Bolsonaro pedisse.