O presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja-MT), Lucas Beber, fez duras críticas à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e defendeu que o presidente Lula (PT) deveria tirá-la do cargo caso queira se aproximar dos produtores do país.
Se o PT quer chegar mais próximo do setor produtivo precisa mudança da ministra do Meio Ambiente. Porque, de fato, ela é o grande entrave hoje
“Ela é simplesmente uma oposição política e ideológica ao setor agropecuário. Então, se o PT quer chegar mais próximo do setor produtivo – novamente, eu estou falando da entidade – precisa mudança da ministra do Meio Ambiente. Porque, de fato, ela é o grande entrave hoje do nosso setor”, afirmou.
O relacionamento entre Marina Silva e o setor do agronegócio brasileiro tem sido marcado por tensões e divergências. Em entrevista ao MidiaNews, Beber apontou que além de se basear em ideologias, a ministra deixa de reconhecer os pontos fortes do agronegócio no Brasil.
“Ela não leva isso para o mundo, não enaltece, não reconhece o que fazemos de bom. E ela não expressa esses números quando vai lá fora”, disse.
O presidente da Aprosoja ainda fez críticas ao Governo Federal, alegando que até o momento o presidente Lula (PT) não trouxe benefícios para o agronegócio, assim como cobrou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD) por mais ações no setor.
Confira os principais trechos da entrevista (e a íntegra do vídeo abaixo da matéria):
MidiaNews – Em 2026 também vai ter eleição para presidente. Que perfil o senhor acha que seria melhor para os produtores a partir de 2027?
Lucas Beber – Olha, eu vou te trazer um exemplo da eleição norte-americana. Lá, o governo Trump não foi bom no primeiro governo para os produtores. Eles perderam competitividade. Porém, eles votaram nele, por um projeto de país. Pensando no futuro, pensando no amanhã, pensando nas próximas gerações que vêm. Então, eu acredito que venha quem vier como candidato a presidente, ele tem que trazer, acima de tudo, um projeto de país a longo prazo, de como nós vamos fortalecer a nossa economia, atrair investimentos para o nosso país, principalmente industrializar o Brasil. Esse é o primeiro passo.
E a segurança jurídica, porque há um temor muito grande quanto a insegurança jurídica no país. Nós não podemos ter invasão de terras da maneira que é solta, tem que ser respeitado o direito à propriedade. Acordos comerciais como a moratória da soja têm que ser altamente repudiados, porque sobrepõem a nossa legislação, colocam o Brasil em patamar da era da colônia. Tudo isso tem que ser visto e ver a agricultura como um setor estratégico, que mostrou que o Brasil.
Nós temos sido responsáveis pelo crescimento na balança comercial. Hoje é o setor que mais tem crescido na geração de empregos no país. A agricultura e a pecuária são altamente estratégicos e têm que ter políticas que tornem isso mais eficiente aqui dentro do nosso país. Nós temos que ouvir primeiro cada candidato, o que vai trazer de proposta, quem está comprometido com o país e com o setor. Seja para presidente da República, seja para o governo do Estado, e acho que, acima de tudo, tem que ter compromissos públicos em certos pontos que são inegociáveis.
Nós temos aí diversos problemas acontecendo no nosso país e acho que, de fato, tem que ser alguém que dê clareza a que rumo ele quer levar em cada um desses detalhes do nosso país.
MidiaNews – E existe essa perspectiva do atual presidente tentar uma reeleição. Vendo o cenário desse mandato, acha que é um perfil benéfico para os produtores?
Lucas Beber – Hoje, não tem sido bom para os produtores. É isso que eu falo. Nós temos que ouvir a proposta de todos. A entidade não dá direcionamento político. Quando estou falando, estou falando do setor. O setor vai ver aquele que representa, aquele que traz segurança jurídica. Eu faço críticas construtivas do que ele está fazendo hoje. Não tem ajudado o crescimento do nosso país e não tem ajudado o nosso setor. Ou tem que ter uma mudança de rumo.
O primeiro quesito que afasta ele [Lula] do setor produtivo é a ministra Marina Silva. Ela está baseada totalmente na ideologia, deixando fatores técnicos, fatores científicos no tratamento, principalmente do setor agropecuário. Ela é simplesmente uma oposição política e ideológica ao setor agropecuário. Então, se o PT quer chegar mais próximo do setor produtivo – novamente, eu estou falando da entidade – precisa mudança da ministra do Meio Ambiente. Porque, de fato, ela é o grande entrave hoje do nosso setor.

Ele [Fávaro] tem que ir para o campo e falar com o produtor, ouvir a dificuldade, trazer uma proposta palpável e que as cumpra
Eu acredito que temos coisas para melhorar no país. Não dá para dizer que é 100% perfeito, mas o país é um modelo. E não vejo ela destacar a questão do plantio direto e o sequestro de carbono feito pela nossa agricultura. Ela não enaltece isso. Ela não enaltece o respeito ao Código Florestal. Hoje, Mato Grosso, é o maior estado produtor, ocupa 14% do território – menos de 14% para a produção de soja – seria o terceiro maior país do mundo. Ela não leva isso para o mundo, não enaltece, não reconhece o que fazemos de bom. E ela não expressa esses números quando vai lá fora.
Geralmente, quando ela sai, ela vai para impor mais restrições aos nossos produtores. Então, não tem como o Governo atual ganhar o carisma com a ministra do Meio Ambiente que ele carrega.
MidiaNews – E, pegando essa crítica, a gente tem no Ministério da Agricultura um nome aqui de Mato Grosso, que é o Carlos Fávaro. Como vê a gestão dele na Agricultura?
Lucas Beber – Primeiro, temos que considerar que, independente de qualquer ministro, ele tem que, sim, olhar para o Estado dele, mas tem que olhar para o país como um todo. Ele não entra lá só para representar Mato Grosso. Nós olhamos o Rio Grande do Sul, que vem passando por diversas dificuldades há quase cinco anos, por secas sucessivas e, no ano passado, enchentes. Eles estão abalados, o produtor do Rio Grande do Sul pede socorro e não está sendo atendido.
Temos que destacar que o produtor de Mato Grosso é o que tem os maiores custos de produção. Temos um clima que nos abençoa muito aqui, que nos favorece. Fazemos duas safras por ano. Mas esse produtor tem os maiores custos de produção e vende o produto mais barato do Brasil, porque nós temos o frete logístico mais caro e esse valor é dissolvido no valor do grão.
Nós temos um alto endividamento, principalmente nessas regiões mais novas e ele [Favaro] não está falando disso. No Rio Grande do Sul é indiscutível, é o estado que mais precisa de socorro, mas aqui no nosso estado, temos muitos produtores que precisam de socorro e de securitização e não vemos o ministro agir. Ele tinha que dialogar mais, se inteirar mais disso, estar próximo para sentir a dor desses produtores.
Ele [Fávaro] tem que ir para o campo e falar com o produtor, ouvir a dificuldade, trazer uma proposta palpável e que as cumpra. No ano passado, fizemos todo um cálculo do prejuízo dos produtores de Mato Grosso, levamos o número do Estado. Ele até falou publicamente que faria, mas para o estado não veio nada.
MidiaNews – E ele é um pretenso candidato à reeleição também para o Senado. Acha que ele tem alguma chance no Estado?
Lucas Beber – É difícil falar, porque depende de quem vai disputar. A gente sabe que política é feita de negociações. Não é algo que a gente se mete. Nós temos políticos que, às vezes, se põem como pretensos candidatos a governador, que têm certa força, mas, na verdade, estão negociando para talvez vir com apoio ao Senado ou deputado federal. Há uma dança de cadeiras muito estratégica, só que essa é uma estratégia que não cabe ao nosso setor.
Ele pode pleitear qualquer cargo, depende também das pesquisas políticas. Mas já não é atuação da nossa entidade isso. Eu só sei que se ele quer apoio do setor, tem que olhar mais para o setor também e atender políticas. Hoje ele está devendo bastante para o nosso setor.
MidiaNews- As projeções indicam uma supersafra de soja neste ano. Qual a estimativa da Aprosoja?
Lucas Beber – Hoje, o IMEA (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) fala em aproximadamente 51 milhões de toneladas. Seria uma safra recorde. O mercado já está sabendo disso, há muita divergência na safra nacional. Nós ainda acompanhamos, inclusive às vezes até discordamos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), mas ela está muito mais conservadora que a própria Abiove ( Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) e o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), então preferimos respeitar ainda os números da Conab, que são mais conservadores a nível nacional. O IMEA fala em 51 milhões de toneladas, e é difícil discordar, justamente devido ao fato de que esse ano o clima colaborou bastante para a produção da soja.
Vem aí também uma segunda safra de milho que deve ser uma das maiores — porém, não a maior, que no ano retrasado o Estado cultivou em torno de 7 milhões e meio de milho. No ano passado, reduziu a 6,8 e esse ano novamente elevou um pouco mais: 7,1. Apesar de se ter uma produtividade boa, não teremos uma área grande.
Estima-se uma safra de aproximadamente 48,83 milhões de toneladas de milho. Inclusive, o clima surpreendeu porque o cenário era negativo, porque houve atraso na semeadura da soja. Por outro lado, tivemos o alongamento do ciclo da soja esse ano e problemas de chuva na colheita. Mas o clima surpreendeu e as chuvas também esticaram.
MidiaNews – Mato Grosso teve um excesso de chuva. Houve algum impacto no escoamento da safra?
Lucas Beber – Houve. Tanto o porto pela saída do Rio Madeira, que atende a região oeste do Estado, como o Porto de Miritituba, que leva grande parte da produção do eixo da BR-163, do norte, estavam congestionados este ano. Temos que avançar bastante na estrutura portuária.
Temos que pensar em ferrovia também — tem a Ferrogrão aí, que é o grande projeto que vai viabilizar o frete de Mato Grosso. Estima-se que Mato Grosso perde mais de 8 bilhões só em frete, por não ter concorrência e a eficiência de uma ferrovia.
Se tivéssemos a construção dessa ferrovia, R$ 8 bilhões ficariam na economia de Mato Grosso por ano. Estima-se que o país ganharia em torno de R$ 60 bilhões de forma praticamente imediata com a construção, com a geração de emprego, com aumento de competitividade, com as perdas no transporte. Isso tornaria o nosso país mais rico, a nossa economia mais rica.
No nosso Estado, temos o frete ferroviário mais caro do mundo, justamente por não ter concorrência. É algo que temos que pensar de forma rápida.
MidiaNews – Sobre a Ferrogrão, Mato Grosso vive um impasse em relação a essa obra, que está judicializada. Qual é o sentimento entre os produtores? Existe uma frustração em relação ao projeto parado?
Lucas Beber – Existe. Há uma falsa ilusão: agora a Ferro Norte vai chegar em Nova Mutum, Lucas do Rio Verde. Há uma ilusão de que isso vai trazer vantagem. Eu não vejo vantagem alguma. A única vantagem que vai ter, que talvez vai desafogar um pouco a BR-163, que agora duplicada já está muito mais tranquila.
Porém, enquanto não tiver concorrência não tem vantagem econômica. Quem de fato ganha com isso é quem explora a ferrovia e não os produtores. Os números eu coloquei aí, é esse o prejuízo: mais de R$ 8 bilhões que deixa de circular na economia de Mato Grosso.
Sempre se acusou o agronegócio de não trazer benefício para a sociedade. Tem aquela frase: “A produção de Mato Grosso deixa rico somente fazendeiros”. Isso é uma grande inverdade, porque mesmo o produtor tomando prejuízo, injeta dinheiro na economia, faz circular. Temos que lembrar que o produtor rural, é o único que compra no varejo, tem que pagar pelos insumos o preço que o mercado impõe e vende no atacado, ou seja, é o mercado que põe o preço no produto que ele tem.
Na pandemia, essa teoria de que só enriquece fazendeiro foi colocada por terra, porque de fato, Mato Grosso e Minas Gerais foram os dois únicos estados cuja economia cresceu, enquanto outros estados encolhiam. Nos últimos quatro anos, Mato Grosso é o estado que tem o maior crescimento do PIB, da economia, do índice de desenvolvimento humano e é o que tem dado os maiores saltos na melhora dos índices de educação. De fato, isso mostra a força que é a agricultura, a industrialização do nosso estado, que atrai também o setor agropecuário. Nós tivemos a primeira onda: são os frigoríficos, a agroindústria, antes com a pecuária, o boi engordado no pasto.
MidiaNews – Um assunto que teve repercussão no início do ano foi o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. É possível dizer que Mato Grosso foi beneficiado?
Lucas Beber – Sem dúvida nenhuma. Nós temos um exemplo de 2019 para ter uma noção em números. Lá, nessa primeira guerra comercial que houve entre Estados Unidos e China, que não foi tão intensa como essa de agora, tivemos duas janelas de oportunidade que se abriram pra Mato Grosso.
Primeiro foi pegar o mercado norte-americano. Em 2019, o Brasil se consolidou como o maior produtor de soja do mundo. No ano anterior, havia se consolidado como maior exportador. Com essa guerra comercial, veio crescendo de lá para cá. Mato Grosso deu um salto de 9,6 milhões de hectares de produção de soja para a atual safra: 12,8 milhões de hectares, que são os números estimados. O milho, de 4,5 milhões para aproximadamente 7,1 milhões de hectares agora.
Isso ocorreu justamente com essa oportunidade e também com o avanço da logística, que é um grande gargalo que temos em Mato Grosso. Nos últimos anos, avançou, mas a ligação com o Porto de Miritituba e o tarifaço americano, daquela época sobre os produtos chineses, foi o que deu esse espaço.
Agora, novamente, se abre essa oportunidade para abraçarmos o mercado internacional e ocupar lugares que, antes, produtos dos Estados Unidos ocupavam. Porém, também temos que avançar em outros setores. Temos tramitando no Congresso Federal a PL do licenciamento, que é algo também que vai colocar o nosso país em patamares mais altos e concorrenciais nesse mercado.

Estima-se que Mato Grosso perde mais de 8 bilhões só em frete, por não ter concorrência e a eficiência de uma ferrovia
MidiaNews – E o que será o PL do licenciamento, o que propõe?
Lucas Beber – Hoje, no Brasil, o licenciamento ambiental é regido por mais de 27 mil normas, leis e regimentos. Ela trata da simplificação, vai unir tudo isso, vai tirar fora todos os conflitos e vai ter uma lei mais centralizada.
Vamos ficar um pouco mais semelhantes aos Estados Unidos, Europa e China, porque lá têm alguns requisitos. O licenciamento tem que respeitar parâmetros, porém, também, tem prazos para ser cumprido. Por outro lado, a lei passa a ficar mais rígida, porque é um mito que essa lei, como dizem, deixaria a corda solta, não é isso. Essa lei, inclusive, traz maiores punições para o descumprimento de regras ambientais.
Porém em atividades como a agricultura e agropecuária, para aquele produtor que exerce só o plantio, que é uma atividade de baixo impacto, e que hoje, tem o código ambiental mais restritivo do mundo para se produzir soja e milho, não vai mais precisar de licenciamento, se o produtor já tiver o CAR (Cadastro Ambiental Rural), já está comprovando que está comprometido com a sustentabilidade.
MidiaNews – A gente vê que a Aprosoja está sempre no meio de discussões políticas e as articulações para eleição de 2026 já começaram. De um lado tem o governador Mauro Mendes apoiando o vice Otaviano Pivetta, ao mesmo tempo em que o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro pretende lançar candidato. Qual é o melhor caminho para Mato Grosso, na opinião da Aprosoja?
Lucas Beber – Temos que analisar. Sempre falo: tem que ter uma visão 360. A entidade não é político-partidária, nem deve ser. De fato, ela tem que trabalhar por políticas que representem o anseio do produtor. Nossa entidade defende um estilo de vida. O que o produtor sabe fazer é produzir e explorar a terra. Nós temos que buscar por políticas que não tragam injustiça aos produtores, que tragam competitividade e eficiência, somente isso.
Muitas vezes, o Estado mais atrapalha do que ajuda, porque para o Estado é fácil. O Estado arrecada. Eu tenho que destacar, por exemplo, o governador Mauro Mendes tem feito um bom trabalho de gestão, mas eu falava de números: não é levado em consideração o quanto cresceu essa produção, quanto isso gerou a mais de arrecadação. Lá atrás, fazendo um histórico, tivemos o governador Dante de Oliveira, que criou o Fethab (Fundo Estadual de Transporte e Habitação) , depois o governador Pedro Taques, que criou o Fethab 2, e agora o Mauro Mendes, a criação do Fethab Milho. Parabéns pela gestão, mas também há que se reconhecer que o setor tem contribuído na construção do estado, no avanço da infraestrutura, através da arrecadação.
Nós temos que ver, de fato, qual que é o compromisso dos próximos governantes. Porque não temos lado político, o que defendemos são políticas alinhadas com o nosso setor. Acredito que, quando o setor ganha, todo o Estado tem que ganhar. Mas, quando o setor passa por dificuldade, não é justo o Estado continuar aumentando essas cobranças sobre o produtor. Todo o projeto de lei, tudo que é feito.
MidiaNews – A moratória da soja ainda é uma preocupação dos produtores do Estado? Existe uma estimativa de perda em Mato Grosso?
Lucas Beber – Tem uma estimativa que R$ 20 bilhões deixam de circular na economia todo ano pela moratória da soja.Temos o Código Florestal mais restritivo do mundo, que só 20% da área no bioma amazônico pode ser explorada, tendo que preservar 80%. E a moratória é um acordo entre comerciais que sobrepõe esse código, dizendo que, quem desmatou após agosto de 2008, essas empresas não compram, mesmo que legalmente, mesmo que sujeito a esse Código Florestal. Ou seja, aquele produtor que desmatou depois de 2008, que talvez estava explorando a atividade pecuária, agora quer ir para a soja, que virou mais rentável, inclusive pela logística que tem melhorado no nosso estado, mas não pode, porque ele não tem para quem vender.
Daí você fala: “Não, mas tem a livre iniciativa, essas empresas podem atender o acordo comercial.” Nós temos que lembrar que essas empresas, juntas, correspondem a mais de 90% do mercado comprador, para atender um mercado que, não falo que não é importante, mas comparado com o mercado chinês, é muito inferior. E ainda tem um detalhe: nada impede essas empresas de atenderem a demanda, desde que, para isso, se crie uma logística, parte, rastreabilidade e certificação. Claro que isso tem um custo, mas quando quero ir no supermercado, quem gosta de alimento orgânico sabe que é mais caro. Então, se eles têm essa exigência, eles pagam pelo custo que tem de todo esse trâmite, e está tudo bem.
Essas empresas simplesmente olham para esse produtor e falam: “Não, não vou comprar de você, porque você não atende o mercado europeu.” E esses municípios deixam de se desenvolver. Não é à toa que a Aprosoja Mato Grosso, junto com a Associação dos Municípios (AMM), liderada pelo presidente Leonardo Bortolini, mobilizou mais de 100 prefeitos no final de 2023, pedindo no Palácio Paiaguás o fim da moratória.
Na virada do ano, já na gestão da atual diretoria da Aprosoja, também, em parceria com a Ucmmat (União das Câmaras Municipais de Mato Grosso), mobilizamos mais de 127 câmaras de vereadores do Estado. O Tribunal de Contas também abraçou a causa. Foi feita uma audiência aqui em Cuiabá pedindo o fim da moratória, por ela não causar só prejuízo financeiro aos produtores, mas também prejudicar o desenvolvimento social regional de Mato Grosso.
MidiaNews – Recentemente, a Aprosoja entrou com uma ação pedindo R$ 1 bilhão de indenização às signatárias da moratória da soja. Pode explicar um pouco esse processo?
Lucas Beber – Na verdade, o prejuízo é muito maior, R$1 bilhão não é indenização por danos materiais e econômicos, é só danos morais.
Mais de 90% do mercado comprador exige a moratória da soja – um cartel em forma de compras. Então, o produtor, para vender, ia geralmente para o famoso “mala preta”, que sabe que ele está nessa situação ruim e já paga mais barato. Às vezes, o produtor faz uma trava, ou seja, vende X sacas de soja para travar os custos da lavoura dele, ou seja, ele sabe quantas sacas precisa.
Essa troca acabava ficando mais cara, por pagar menos na soja e, às vezes, se tivesse uma oscilação de mercado, esse “mala preta” arroiava a corda e não comprava o contrato. Em cima da hora, ele tem que vender novamente o produto, às vezes vale menos. Ele precisa de mais soja, porque perde o poder de compra. Ou, na verdade, o cara paga ele certinho e daqui a um ano chega uma cartinha: “Você não recolheu o Fethab.” Porque por mais que a empresa faça o recolhimento, a obrigação é do produtor. Aí ele tem uma multa, juros, e a vida dele acaba ficando mais dificil. Ou seja, é humilhante. Então, essa indenização de R$ 1 bilhão é só sobre danos morais, o valor material é maior que isso e vamos pedir esse ressarcimento na Justiça.
MidiaNews – O Governo Lula anunciou um plano safra que seria recorde, mas o dinheiro não estava chegando ao produtor. O Governo Lula tem falhado com o agro?
Lucas Beber – Parece que o Plano Safra às vezes é visto como uma benesse para os produtores rurais, parece que aquele dinheiro é dado, mas na verdade, não é dado, é emprestado. O Plano Safra é uma política de Estado prevista desde a Constituição de 1964. Além de estimular a produção agrícola, o Plano Safra também tem uma grande responsabilidade na segurança alimentar do país, ou seja, garantir a oferta de alimentos para o nosso país.
O governo subsidia os juros, ou seja, ele ajuda, paga uma parte dos juros para o juro ficar mais barato – e não é o total, porque o Plano Safra, atende em torno de menos de 10% do mercado, mas é um equalizador. Ele consegue puxar a régua dos juros do mercado privado para baixo. Porém, temos que considerar a alta inflação que estamos tendo nos últimos anos, que os custos de produção têm encarecido bastante.
Por isso que eu faço uma crítica construtiva ao governo federal sempre, porque por mais que se anuncie um Plano Safra maior, muitas vezes ele não cobre a inflação. Ou seja, virtualmente ele é maior, mas, na prática, literalmente, acaba ficando menor, porque a cada ano se diminui o poder de compra que o Plano Safra proporciona. Então essa é uma das críticas que fazemos.
MidiaNews – O senhor termina o seu mandato como presidente no próximo ano. Quais são os planos para a Aprosoja e como tem visto a atuação nesses últimos dois anos? Como vê o futuro das cidades no interior?
Lucas Beber – É muito crescimento. Mato Grosso tem um potencial ímpar. Eu vi uma entrevista de um norte-americano na semana passada e onde ele falou: “Quando olhamos para o Brasil, principalmente para Mato Grosso, vemos um oceano azul.” Eu falei de etanol de milho, de agroindústria, não estamos nem no começo disso. Mato Grosso vai crescer muito na agroindustrialização, vai atrair muito investimento. É claro, para isso precisamos de políticas que viabilizem e favoreçam isso. Temos que continuar pensando estrategicamente na logística, ferrovias, rodovias.
Eu vejo que Mato Grosso está preparado para crescer a produção. Há uma estimativa de, em 2034, 64 milhões de toneladas de soja e mais de 80 milhões de toneladas de milho. Eu falo que o Estado vai superar isso, porque temos uma grande condição de migração da pecuária. O Brasil deu um crescimento na produção pecuária, da década de 70, diminuindo a área, a agricultura está tomando esse espaço com eficiência em ambos os lados, na pecuária e na agricultura.
Mato Grosso é um grande estado que é favorecido por clima, por geografia e por tudo. Eu acredito que o nosso Estado, nos últimos anos, mostrou a força que tem, sendo um dos grandes pilares da economia do nosso país, pela agricultura.
Assista a entrevista: