Os preços de bens e serviços do país subiram 0,56% em março, maior variação para o mês desde 2003. Além disso, o resultado desacelerou em relação a fevereiro, quando subiu 1,31% (uma queda de 0,75 ponto percentual). Com isso, o Brasil tem inflação acumulada de 5,48% — acima do teto da meta, que é de 4,50% (entenda o sistema de metas abaixo). No ano, acumula alta de 2,04%.
O resultado do mês passado ficou dentro do esperado por analistas do mercado financeiro. As previsões da Warren Investimentos e do relatório Focus eram de alta de 0,50% e 0,56%, respectivamente.
Os dados fazem parte do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — que mede a inflação oficial do país —, divulgado nesta sexta-feira (11/4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O que é IPCA
- Refletindo o custo de vida e o poder de compra do cidadão brasileiro, o IPCA é calculado desde 1979 pelo IBGE.
- O IPCA é considerado o termômetro oficial da inflação e é usado pelo Banco Central para ajustar a taxa básica de juros, a Selic.
- Ele mede a variação mensal dos preços na cesta de vários produtos e serviços, comparando-os com o mês anterior. A diferença entre os dois itens da equação representa a inflação do mês observado.
- O IPCA tem por meta pesquisar dados nas cidades, de forma a englobar 90% das pessoas que vivem em áreas urbanas no país.
- O índice pesquisa preços de categorias como transporte, alimentação e bebidas, habitação, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação, comunicação, vestuário, artigos de residência, entre outros.
Como a inflação se comportou?
Segundo o IBGE, todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados apresentaram variação positiva na passagem de fevereiro para março. A guinada da inflação em fevereiro foi influenciada pelo aumento de 1,17% de Alimentação e bebidas, com maior peso no índice.
Confira o resultado, por grupos, do IPCA:
- Alimentação e bebidas: 1,17%;
- Despesas pessoais: 0,70%;
- Transportes: 0,46%;
- Vestuário: 0,59%;
- Saúde e cuidados pessoais: 0,43%;
- Comunicação: 0,24%;
- Habitação: 0,24%;
- Artigos de residência: 0,13%;
- Educação: 0,10%.
Veja o impacto, por grupos, na inflação em março:
- Alimentação e bebidas: 0,25 ponto percentual;
- Transportes: 0,09 ponto percentual;
- Despesas pessoais: 0,07 ponto percentual;
- Saúde e cuidados pessoais: 0,06 ponto percentual;
- Habitação: 0,04 ponto percentual;
- Vestuário: 0,03 ponto percentual;
- Comunicação: 0,01 ponto percentual;
- Educação: 0,01 ponto percentual;
- Artigos de residência: 0 ponto percentual.
Preço dos alimentos sobem
A inflação dos alimentos acelerou de 0,70% em fevereiro para 1,17% em março. A alimentação no domicílio (ou seja, o preço dos produtos nos mercados) cresceu 1,31%, o que indica uma aceleração na comparação com fevereiro (0,79%).
Os destaques vão para:
- as altas nos preços do tomate (22,55%), do ovo de galinha (13,13%) e do café moído (8,14%).
- as quedas nos preços do óleo de soja (1,99%), do arroz (1,81%) e das carnes (1,60%).
O gerente da pesquisa, Fernando Gonçalves, explica que o calor dos meses de verão provocou a antecipação da colheita do tomate. No caso dos ovos, o aumento no custo de produção e o período da quaresma impulsionaram os preços.
Transportes e Habitação
No grupo dos Transportes, o resultado foi influenciado pelo aumento da passagem aérea (6,91%) e dos combustíveis (0,46%). No caso do último, os preços desaceleraram em relação a fevereiro (2,89%).
Os preços dos combustíveis:
- gasolina subiu 0,51% frente os 2,78% registrados no mês anterior.
- óleo diesel avançou 0,33% contra os 4,35% computados no mês anterior.
- etanol variou 0,16% ante os 3,62% verificados no mês anterior.
- gás veicular acelerou 0,23% após computar -0,52% no mês anterior.
O grupo Habitação variou 0,24% em março, após registrar alta de 4,44% em fevereiro. A energia elétrica residencial, subitem de maior peso no grupo, desacelerou dos 16,80% do mês anterior para 0,12% em março.
Despesas pessoais e outros
Em Despesas pessoais (0,70%), grupo com a segunda maior variação no mês, o resultado foi influenciado pelo subitem cinema, teatro e concertos (7,76%). Segundo o IBGE, a alta ocorreu devido ao fim da semana do cinema, que ocorreu em fevereiro.
No grupo Vestuário (0,59%), houve aumento nos calçados e acessórios (0,65%), na roupa feminina (0,55%), na roupa masculina (0,55%) e na roupa infantil (0,29%). Enquanto no grupo Saúde e cuidados pessoais (0,43%), as maiores contribuições vieram do plano de saúde (0,57%) e da higiene pessoal (0,51%).
INPC tem alta de 0,51% em março
A inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 0,51%, após registrar variação de 1,48% em fevereiro. Nos últimos 12 meses até março, o INPC acumula alta de 5,20%. No ano, o acumulado é de 2%.
O índice serve de referência para o reajuste do salário mínimo e de benefícios sociais.
O INPC é um indicador que mede a variação média dos preços de um conjunto específico de produtos e serviços consumidos pelas famílias com renda entre 1 e 5 salários mínimos mensais.
Novo sistema de metas: meta contínua
A partir deste ano, a meta de inflação do Brasil é contínua. Ou seja, o índice é apurado mês a mês. Se o IPCA acumulado em 12 meses ficar fora desse intervalo por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.
Em 2025, a meta inflacionária é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual – isto significa piso de 1,5% e teto de 4,5%. Ela será considerada cumprida se oscilar dentro desse intervalo de tolerância.
O objetivo é estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), formado por:
Se a meta for descumprida, o BC precisa divulgar carta aberta ao ministro da Fazenda — neste caso, Fernando Haddad — explicando as razões para o estouro. A autoridade monetária contém o avanço dos preços por meio da taxa Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) a cada 45 dias. A próxima reunião do Copom será nos dias 6 e 7 de maio.
O próprio Banco Central segue afirmando que a inflação acumulada em 12 meses pode ficar acima do teto do intervalo de tolerância da meta durante seis meses seguidos (ou seja, até junho) — o que caracterizaria o descumprimento da meta inflacionária em 2025.
Na ata do Copom de março, o colegiado alertou que, se a inflação continuar avançando, o valor acumulado em 12 meses permanecerá “acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos”.
“Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, alertou a diretoria do BC.
A inflação para o mercado
As projeções do mercado financeiro para a inflação referente a 2025 seguem distantes da meta. Segundo o relatório Focus mais recente, a estimativa dos analistas consultados pelo Banco Central (BC) para o IPCA está em 5,65%.
Confira as expectativas dos economistas:
- A projeção de inflação para 2026 continua em 4,50%.
- Enquanto a estimativa de inflação para 2027 segue a mesma da semana passada: 4%.
- A previsão de inflação para 2028 está em 3,78%.
Além do mercado, o próprio BC — que tem o papel de controlar o avanço da inflação por meio da taxa de juros (a Selic) — informou que há 70% de probabilidade de a meta inflacionária ser descumprida neste ano.
No Relatório de Política Monetária (RPM), divulgado no fim de março, o órgão avaliou que a chance de a inflação estourar o teto da meta subiu de 50% (em dezembro) para 70%.