A fraude no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) colocou o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), na mira do Congresso. O titular da pasta foi alvo de deputados de oposição numa conturbada audiência pública nesta terça-feira (29/4), recheada de bate-bocas. Em breve, senadores também devem tentar emparedá-lo sobre o assunto, uma vez que um requerimento de convite já foi aprovado na Casa.
Há ainda articulações no Congresso para instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os descontos indevidos, que somam R$ 6,3 bilhões. A articulação dependeria da caneta do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Em outra frente, a oposição protocolou na Procuradoria-Geral da República (PGR) um pedido de impeachment de ministro.
O inferno astral de Lupi também se manifesta na Esplanada. Aliados reconhecem o fogo amigo e a fritura de colegas do próprio governo para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demita o seu ministro e abra espaço na Previdência. Seria uma maneira de tentar tirar o Planalto do centro da crise, ao mesmo tempo em que possibilitaria uma minirreforma ministerial.

Ezimar Vieira dos Santos, que diz ter sido alvo do esquema de descontos indevidos no contracheque da aposentadoria
VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto
Ministro da Previdência Social, Carlos Lupi
VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto
Confusão na audiência pública
O PDT se esforça para mantê-lo no cargo, e convocou seus deputados para defender o ministro na audiência pública dessa terça. O secretário-executivo da Previdência, Wolney Queiroz, também compareceu. Ele é ex-deputado e ficou na primeira fileira da comissão, ao lado dos ex-companheiros de bancada. A tropa, no entanto, não impediu confusões, brigas e constrangimentos com a oposição.
Um ponto de inflexão foi a presença de uma suposta aposentada no plenário da Comissão de Previdência. Ao lado do deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), ela chegou a questionar o ministro: “Nós não merecemos respeito?”. O titular da pasta respondeu: “Nenhum aposentado pode falar nada de mim porque não tem ninguém que mais defenda aposentados que eu”.
Em outra intervenção da suposta aposentada, uma confusão foi instaurada. O presidente da comissão, Ruy Carneiro (Podemos-PB), cortou a fala do deputado Van Hattem quando a idosa começou a discursar, e o parlamentar se revoltou. Gritos tomaram conta do plenário, e a mulher chegou a ser confrontada por uma das seguranças do colegiado.
Entre o desgaste e a “quebra de confiança”
A oposição tenta desgastar Lupi, apontando suposta omissão do titular da pasta. De acordo com a Polícia Federal (PF), que deflagrou na última sexta operação contra as fraudes, as irregularidades começaram em 2019, no governo Bolsonaro. O esquema foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens iniciadas em dezembro de 2023. A ação levou ao afastamento do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.
Lupi afirmou estar “doendo na carne” ver envolvidas no esquema pessoas em quem tinha depositado confiança. “Ver as pessoas que, na semana passada, eu tinha confiança e trabalhavam comigo e desenvolviam um trabalho que eu achava que era bom envolvidas com isso, é um pavor, um horror”, disse o titular da pasta federal.
Lideranças do PT confiam que Lupi não tem relação alguma com o esquema, mas assumem nos bastidores que o ministro está na berlinda. Consideram que ele se defendeu bem durante a audiência dessa terça e que, caso siga sem escorregar diante da ofensiva da oposição, o presidente Lula deve decidir por mantê-lo no posto.