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MidiaNews | A escala 6×1

Venho falando insistentemente sobre o adoecimento dos trabalhadores na nossa sociedade. Não é preciso estar na clínica ou em serviços de saúde para se dar conta de que o trabalhador está adoecendo. Muito se fala sobre o adoecimento da sociedade, mas quero chamar a atenção que esse adoecimento tem como fator significativo as questões do mundo do trabalho. Ou seja, a sociedade vem adoecendo porque o trabalhador tem adoecido pelas fragilidades e desafios do mundo do trabalho.

 

44 horas de trabalho semanal não garantem o tempo que uma pessoa precisa para dar conta de suas necessidades diárias

A corrida pelo bem-estar próprio e dos familiares, associada com a competitividade do mundo do trabalho e a necessidade real de sobrevivência, tem exigido dos trabalhadores o acúmulo de funções e sobrecarga de atividades.

 

São inúmeros trabalhadores que dedicam horas de trabalho excedentes para dar conta das responsabilidades quotidianas. Além disso, as dificuldades da vida urbana como a violência e a falta de condições dignas de vida se somam para a construção de cenários estressantes para a trabalhadora e o trabalhador.

 

Ainda que o trabalhador não tenha duplo ou triplo vínculo de trabalho, todas as condições acima mencionadas são suficientes para causar processos de adoecimento. Por isso, vemos cada vez mais afastamentos por Burnout ou por quadros depressivos. Os principais fatores de adoecimento por Burnout, o distúrbio causado pelo estresse no trabalho, conhecido pelos sintomas de exaustão e baixa realização pessoal, são: sobrecarga de trabalho, ausência de reconhecimento e falta de autonomia.

 

Ora, se estamos vivenciando um processo contínuo de adoecimento de trabalhadores, a sociedade brasileira precisa rever as condições de trabalho para que possamos garantir a dignidade daqueles que produzem. E condições de trabalho diz respeito ao tempo que os trabalhadores destinam para o seu ofício.

 

A jornada de trabalho praticada na iniciativa privada é absurdamente alta. 44 horas de trabalho semanal não garantem o tempo que uma pessoa precisa para dar conta de suas necessidades diárias. Como uma pessoa trabalhadora conseguiria para além do trabalho dar conta de acompanhar os estudos dos filhos ou ir a uma consulta médica? Seria possível após 8 horas de trabalho, acumulados com o percurso de ida e volta no transporte público ter disposição para uma atividade cultural como ler um livro ou assistir um filme? O tempo do final de semana seria suficiente para garantir um mínimo cuidado em saúde mental?

 

Precisamos refletir sobre as condições de vida dos trabalhadores brasileiros e isso passa por uma análise do tempo que o trabalhador dedica para o trabalho. A proposta de redução da jornada de trabalho por meio do projeto de Lei que acaba com a escala 6×1 é urgente e necessária.

 

A o fim da escala 6×1 representa o reconhecimento de que o trabalhador merece o descanso do fim de semana integralmente. Com o sábado disponível, um trabalhador pode ter tempo para resolver aquelas tarefas que durante a semana não seria possível, mas acima de tudo, ele passaria a ter um tempo melhor para aquelas atividades potencializadoras de cuidado em saúde mental, tais como atividades físicas ao ar livre, atividades culturais e até mesmo tempo livre para o ócio saudável. Sim, um tempo para não fazer nada é saudável e pode resgatar o bem-estar emocional.

 

É imaginável que a proposta impacte na economia de diversas formas, mas certamente essa conta está sendo paga há muito tempo pelas trabalhadoras e trabalhadores e não podemos aceitar que o custo seja a saúde mental daqueles que sustentam esse país nas costas. 

 

Gabriel Henrique Pereira de Figueiredo é psicólogo.

 

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