A cúpula do governo diz avaliar que o vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre as fraudes no INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) não conseguiu atingir o principal objetivo: ligar o nome do presidente Lula (PT) ao escândalo. Blindá-lo segue como prioridade política.
A avaliação é que a pecha de corrupção ainda não foi colada ao governo, pelo menos por ora. Lideranças do governo dizem que a preocupação tem sido muito mais econômica, ou seja, restituir o quanto antes o dinheiro dos aposentados e pensionistas afetados, do que o rotulo de corrupto, que assolou mandatos petistas anteriores.
Esta é a narrativa que a oposição tem procurado martelar. Na última terça, Nikolas soltou um vídeo chamando o caso de “o maior escândalo da história do Brasil”.
Com fala direta e articulada, fundo preto e uso de material jornalístico, a peça tem a mesma estética do vídeo do Pix, lançado em janeiro, que foi um dos propulsores para a principal crise de imagem do governo até então.
Mais uma vez, o vídeo de Nikolas viralizou. Em menos de dois dias, a produção, que mostra o deputado envelhecendo com efeitos de inteligência artificial, atingiu 100 milhões de visualizações e mais de 400 mil comentários no Instagram, inferior ao fenômeno do Pix, mas superior a qualquer publicação do governo ou da base sobre qualquer tema.
Quando divulgado, na noite de terça, o governo esperava uma nova escalonada na crise. Logo as lideranças no Congresso e as equipes de comunicação dos ministros foram acionadas para assumir a linha de frente e tentar desviar a crise da imagem do presidente.
Não bateu como a crise do Pix, avaliam membros do governo. Eles dizem que pode ser cedo para cravar, mas que, apesar da cifra impressionante, o impacto passou longe do que poderia ter alcançado.
Blindagem de Lula
O principal trabalho da cúpula governista seguirá sendo blindar o presidente. Se, na parte prática, a maior urgência é restituir o dinheiro fraudado, no âmbito político, o foco é fazer com que “fraude do INSS” e “Lula” não se tornem sinônimos, como ocorreu, por exemplo, com o mensalão, no primeiro mandato.
É um argumento fundamental para que o Planalto rejeite a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito). A cúpula governista entende que a comissão seria uma oportunidade para que a oposição e bolsonaristas usassem os holofotes para fazer essa conexão e ainda conseguissem maioria para criar outras dores de cabeça sobre o tema.
Como resposta, a linha de frente lulista tem tentado ligar o escândalo ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Encabeçada pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, a estratégia repetida pelos ministros é lembrar que as fraudes tomaram grandes proporções durante a gestão anterior e que foi por meio da Polícia Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União) atuais que o escândalo foi descoberto.
Tudo sempre por meio de ministros e lideranças. Não à toa, Lula demorou uma semana para tratar do assunto, se pronunciando em rede nacional, e assim deverá continuar, segundo conselhos do ministro Sidônio Palmeira, da Secom (Secretaria de Comunicação).